domingo, 13 de fevereiro de 2011

PARTE XIX - A ESTREIA DE CONSTANTINO E A VAGINA E A CHEGADA DE JOANNA FAQQUIR COM O SEGREDO QUE TRAZIA NO PEITO

A ESTREIA DE CONSTANTINO COMO ERA DE SE ESPERAR, foi tensa e embaraçosa. Tudo que ele tinha que fazer era ficar ali sentado, no centro do picadeiro, enquanto a Vagina contava piadas e arrancava risos e aplausos do público. As crianças, boquiabertas, eram as que mais gostavam, sobretudo no último número em que ela engolia as espadas ao som de The House of Rising Sun. Os olhos arregalados de Constantino imploravam por socorro enquanto as espadas sumiam em sua testa, tragadas até o cabo. Era sem dúvida um espetáculo dantesco, mas, que no final, a plateia rompia em gritos e aplausos. Acabaram tornando-se a atração principal do circo, causando frenesi e atraindo multidões por onde passavam:

CIRCO GUERNICA APRESENTA:

O HOMEM COM A ABERTURA NA TESTA


As apresentações não só empolgavam a multidão como passaram a render bons lucros ao seu Boaventura e a sua companhia. Apesar da fama e de um considerável salário que recebiam, o casal sentia-se muito triste e abatido e só eles sabiam o motivo. O mágico Castilho também, e por essa razão tentava animá-los com suas mágicas engraçadas e com sua irreverencia. Havia também as gêmeas pitonisas que, ao modo delas, procuravam ajudar também, adivinhando-lhes um destino de flores. Mas não adiantava muito não. Decorreram-se dias, meses com o Guernica viajando pelos lugarejos mais longínquos e exóticos daquela região tropical.
Um dia, porém, o circo recebeu a visita tímida e misteriosa de uma jovem de magreza e exotismo notáveis. Chamava-se Joanna e se dizia uma Faquir. Posto a par de suas habilidades na cama de pregos, seu Boaventura a contratou, embora achasse que não havia mais tanto interesse por artistas da fome. Tempos atrás - coisas de décadas - sim, compensava o esforço de promover tais exibições, hoje era quase impossível. Os tempos eram outros. Os circos também. Não obstante, seu Boaventura não concebia a ideia de ver tantos artistas e gentes comuns morrerem á míngua por falta de emprego. Cumpre lembrar que seu Boaventura era de um coração do tamanho da lona que os cobria, e todos naquela companhia o tinham como um pai.
O Guernica, portanto, acolhia a todos, até mesmo as adivinhas também tão esquecidas pelos circos modernos.
Joanna Faqquir, como gostava de ser chamada, escondia um segredo. Temia que ele viesse atrapalhar seu progresso no circo. Também compartilhava a mesma ideia acerca da modernização dos circos. Eles haviam de fato, perdido a ternura. Decerto, achariam uma aberração o que ela trazia no peito. Ninguém entenderia Sildomar e ela não o exporia a uma situação vexatória, não ele que a ajudou muito nos momentos mais dificeis de sua vida. Refletia ela em noites penosamente em claro. Seguiu com seu segredo, muito embora precisasse confira-lhe a alguém.
Quando soube que a atração principal do circo era um homem com uma vagina na testa, cogitou tratar-se de mais um desses ilusionistas baratos que se aproveitavam da boa fé do público, e portanto, não deu muita importancia. Foi só através do mágico Castilho que ela convenceu-se de que não se tratava de truque algum, que a vagina era real e que tinha uma alma circence. Revelou seu segredo apresentando Siuldomar ao mágico:

"Prazer, cavalheiro." Disse o Pênis com polidez, pois que também falava.
"Sildomar é mais que um amigo. Tem me ajudado a preencher o vazio dos meus ossos."
"Bondade dela. Não faço nada além de minha obrigação."
Diante daquilo, oc coração do mágico fraternizou-se. Pensou em Constantino e na amiga Vagina. Levou as novas pessoalmemente. Constantino quando viu Joanna, encantou-se. Mjuito mais Cíntia por Siuldmar e viceversa. O dia transcorreu com os quatro a conversarem por horas a fio até a noite vir abraça-los:

"Há quanto tempo tem ele no seio?" Perguntou Constantino.
"Há um ano e meio. E você com ela na testa?"
"Vai fazer um ano."
"São adoráveis, não são?" Constantino abriu um sorriso.
"Nen tanto. No começo foi difícil. É muito geniosa esta aqui. Fez-me perder o emprego, por isso vim parar no circo."
"Ao contrário de Sildomar. Sempre muito gentil e compreensivo desde o início. Aprendo muito com ele. Até xadrez ensinou-me a jogar. Tem uma paciência do tamanho do mundo."
"Mas por que o seio esquerdo?" Quis saber Constantino.
"É que ele é... maxista."
"Marxista, você quer dizer."
"É, alguma coisa assim."
Enquanto isso, o Pênis apontava para o firmamento explicando as estrelas. Tinha amor pela física tanto quanto pelas palavras. Uma vez perguntado sobre o amor, por uma das irmãs pitonisas, abriu mão da filosofia deixando a Vagina enrubescida e de lábios abertos.
"O verdadeiro amor não está na superficialidade do coração, e sim nas ações do homem, sejam elas boas ou más."
Constantino ouvindo aquilo, intrigou-se:
"Por acaso o amigo quer nos dizer que um crime justifica uma ação amorosa."
"O bom crime é louvável, sim, desde que sirva ao bem geral da humanidade." Respondeu o Pênis.
"Sildomar é um poeta." Acudiu Joanna Faqquir, com voz maternal.
"Tá me parecendo Dostoievsky. " Ruminou Constantino, coçando o queixo."
"Certamente que o li, meu nobre, e não nego que Raskolnikov tem me ajudado muito em meu tratado."
"Sildomar está escrevdndo um romance, não é querido?" Tornou Joanna.
"Um tratado, querida. Um tratado sobre a reivenção do amor." Corrigiu ele. E colocando-se mais ereto, sem envergar-se um centimetrozinho que fosse, estendeu-se um pouco mais com suas teorias, sem tornar-se enfadonho. Tinha sem dúvida o dom da oratória e a ousadia das ideias. Não tardou para a Vagina derramar-se de encantos e amores por ele e ele por ela.O mesmo sentimento ocorria com Joanna Faqquir e Constantino. Sempre ao término das apresentações, eram vistos caminhando esquecidos do mundo, pelas pracinhas, feiras ou mesmo pelos arredores do circo, sob o luar prateado. Chamavam sempre atenção por onde passavam:
"Olha mãe! O homem com o buraco na testa!" Gritou certa vez uma criança.
"Não é um buraco, menino! É uma... vagina!!"
E benzeu-se em seguida.
Já se falava até em casamento por ali, no que o Pênis encarregou-se logo de descartar a hipótese, deixando bem claro sua objeção ao matrimônio ou a quaisquer outras tradições, valores ou credos. Todos no circo acataram e não se falou mais disso, com exceção, é claro, de Constantino que por achar o Pênis arrogante desde o início, argumentou:
"Em partes, até concordo com o amigo acerca do casamento, pois que também considero uma instituição falida, mas quanto ás outras tradições, já não concordo muito.
O Pênis deixou de lado o livro que lia e voltou-se endurecido para Constantino.
"Deus por exemplo - Prosseguiu Constantino - o amigo não tem religião? não acredita em Deus?"
"Cons-tan-ti-no!!" Ralhou a Vagina. O Pênis parecia escolher as palavras. E elas vieram bailando:
"Deus faliu, meu nobre, portanto, não acredito nele."
"Diz isso porque é um Pênis e não tem alma. Além de tudo, é Marxista como a Vagina e outros orifícios."
"CONS-TAN-TI-NO!!" Tornou a Vagina, sentindo-se ofendida dessa vez.
"Não sou um ser moral, meu senhor, sou um Pênis. Tenho minhas convicções."
Irritou-se um pouco. Quando isso acontecia, seus testiculos enrijeciam e inflavam causando um certo desconforto na glândula mamária de Joanna Faqquir, embora ela já estivesse acostumada áquelas dilatações escrotais
"E o que é um ser moral?"
O Pênis pareceu pensar um pouco.
"É não se sacrificar aos costumes."
"Mas isso é Niestche!"
"Seja quem for, tinha lá também suas convicções."
E deu por encerrado o colóquio, voltando as desventuras de Gregor Sansa. Constantino ainda quis argumentar, mas ele não lhe dera muito ouvidos. É certo que não havia ali outra argumentação a se contrapor a do Pênis e todos reconheciam nele o porta-voz de uma verdade sólida, muito embora ele também não acreditasse na verdade. Começava a achar que nunca deveria ter sido revelado; saído debaixo das vestes de Joanna Faqquir. Vivera o mesmo inferno dos questionamentos humanos quando residia nas costelas de uma turista espanhola em férias no Cairo. Os homens, de modo geral, o aborreciam muito. Preferia sem dúvida a docilidade e o silencio indagador das mulheres. Não que se tratasse de submissão ou passividade feminina, não. Tratava-se de coerência humana do espírito e da razão. E só as mulheres possuíam isso.
No entanto, não foram as interpelações impertinentes de Constantino aliada ás indagações pueris do mesmo que levaram o Pênis a um recolhimento profundo no seio de Joanna Faqquir. Haviam outras razões que só ele e a Vagina sem dúvida sabiam. E o motivo daquela mudança brusca viria á tona em uma manhã primaveril de maio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário