terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

CAPITULO IV - O DESTINO DO PADRE FRITZ

ESTRANHAMENTE NAQUELA MANHÃ, os sinos da Igreja bateram fora da hora. Os fiéis, os devassos, os inomináveis acudiram todos para lá. Quando ali chegaram, deram atônitos com o corpo do padre que ainda balançava no arsuspenso pelas grossas cordas do sino. Formou-se um leve burburinho que foi crescendo e tomando conta do bairro todo. A notícia chegou até a mercearia do seu Juca - o português - onde Constantino tomava seu costumeiro café e se inteirava das notícias pelo jornal. Ainda não havia chegado a mercearia, por sinal,mas já se encontrava á caminho, cruzando com rostos aflitos e calamitosos que passavam por ele afluindo em direção á praça. A esta altura, Constantino já havia assumido definitivamente a Vagina em sua testa e a expunha livremente, sendo motivo de pilhérias, elogios e cantadas diversas. Entrou na mercearia:
"Seu Juca, me vê meu café, sim?" O português inclinou-se sobre o balcão de vidro dando um longo assobio. Depois, comentou:
"Sempre bem acompanhado, hein, seu Constantino?"
"Me vê meu café é que é, seu Juca."
Sentou-se á mesa e folheou o jornal. A Vagina pôs-se a queixar-se do calor e do lugar.
"Tens um gosto, hein Constantino." Ele não lhe dera ouvidos. Na outra mesa, um bêbado amanhecido lançava-lhes olhares salientes. Vez ou outra Constantino desviava sua atenção para a celuema lá fora. Aproveitou a ocasião em que o português lhe servia o café e perguntou:
"Que diabos deu nessa gente hoje, seu Juca?"
"Então não sabes, gajo?"
"Não."
"O pároco enforcou-se." Constantino deixou cair pesadamente o jornal sobre a mesa.
"Cretino, esse padre! Além de tudo, mentiroso." Vociferou a Vagina.
"Pois não é que fala!" Espantou-se o português.
"Ah, vá á merda!" Disse ela zangada.
"Não ligue seu Juca. Mas me diga, o que houve então com o padre?" Recuperando-se do espanto, seu Juca explicou:
"A consciência deve ter pesado. Vivia a molestar as fiéis. Não respeitava nem as casadas. Dizem as más línguas que a Pretinha, filha de dona Rosenira, embuchou foi dele. Não duvido muito não. Esses padres alemães são safados." E atirando a toalhinha sobre o ombro, voltou para trás do balcão de vidro assobiando animadinho.
"E toda essa conversa de morrer com estilo. Cretino, mentiroso!" Tornou a comentar a Vagina, enraivecida. Constantino afrouxou a gravata. Uma outra preocupação de grau maior lhe veio á tona. O que diria na repartição quando o vissem chegar acompanhado da Vagina? E mais tarde, com os amigos de copo: O Adalberto, o Guimarães e o Rosa? Logo o Rosa, o mais provocador de todos eles. Como ela se comportaria sendo eles uns gozadores e ela atrevida demais? Foi a vez dele reclamar baixinho do calor:
"Não corre um vento! Um ventinho que seja! Dia seco. Imprestável..."

"A Lamentação" (Giotto Scravgni) -

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