sábado, 29 de janeiro de 2011

CAPITULO II - POR MAIS ABSURDO QUE FOSSE, A VAGINA FALAVA

Á NOITE, CONSTANTINO FITAVA em silêncio o teto desbotado de seu quarto quando ouviu repentinamente uma voz lhe indagar:
"Então? Vais ficar aí parado a noite inteira pensando?"
"Hein?"
Pulou da cama, assustado.
Vamos dar uma volta, tomar um chop, nos divertir, cuida!"
"Mas que raios! Quem está falando?"
"Eu aqui, na sua testa, esqueceu?"
Por mais absurdo que fosse, a vagina falava.
"Ainda por cima, fala!"
"Pois é... agora troque esse pijama ridículo, ponha uma roupa decente e vamos dar uma voltinha, anda!"
Ainda muito aturdido, Constantino obedeceu.
"Antes de sairmos, espere só alguns minutinhos."
"Por que?"
"O telefone vai tocar. Eu sei como são os homens."
Constantino aguardou. Dito e feito. O telefone tocou. Atendeu:
"Sim?"
"Boa noite! É o seu Constantino?" Perguntou uma voz educada.
"É ele sim, pois não."
"Seu Constantino, é o doutor Cavalcante, lembra? esteve hoje no meu consultório pela manhã."
"Ah, sim, recordo."
"Bom, liguei para... saber como está passando, e também para convidá-lo
para jantarmos juntos."
"Diga a ele que não pode, que já tem compromisso." - Sussurrou a Vagina.
"Hoje não posso, doutor."
"Ora, mais porquê?"
"É que tenho um compromisso."
Silencio do outro lado.
"Posso ligar amanhã? - Insistiu o médico."
"Talvez. Passar bem, doutor."
Desligou.
Ele nunca me enganou desde o início." Falou a Vagina. "Não valem nada. Agora vamos indo."

***

A cidade fervilhava. Os bares lotados de gente. Constantino entrou numa choperia animada. No balcão, pediu um chop de seu agrado. Deu uma golada e respirou fundo:
"Não é uma delícia?" - Perguntou a Vagina. "Agora peça um pra mim, levante esse olhar e procure se divertir."
"Isto não está acontecendo..." Reclamou Constantino.
"É claro que está. Encare os fatos e pare de piscar, isso me irrita."
Pelas tantas, um jovem de porte atlético, escorou-se no balcão, bem próximo de Constantino. Pediu um chop e dirigindo-se á Vagina, puxou conversa:
"Tudo bom, princesa?" sozinha? esperando alguém?"
"Diga a ele que está esperando alguém. Não me obrigue a falar." - Ordenou a Vagina, mordendo os lábios.
"Estamos sim, cavalheiro. Aguardamos alguém."
"Namorado?"
"Não interessa! Diga a ele."
"Não lhe diz respeito, moço!"
"Desculpa então."
E o jovem retirou-se, constrangido.
"Muito bom, Constantino. Viu só como não é nada fácil para nós? Eles não nos deixam em paz um só minuto. Ás vezes é preciso ser deselegantes com eles, mas só ás vezes, entendeu? Alguns até que merecem nossa atenção, outros..."
"Cala essa boca!" Gritou Constantino. As pessoas em volta olharam para ele. Desculpou-se e tudo voltou ao normal.
"Nunca mais fale nesse tom comigo, ouviu seu Constantino?" Protestou a Vagina bastante irritada. "Peça mais chops!"
Após o quinto ou sexto chopm ela pediu para ir ao banheiro. Lá, a cena seria constrangedora se não fosse hilária. Um bêbado adentrou cambaleante ao banheiro e o flagrou inclinado com a testa bem próxima ao bidê:
"O que o senhor está fazendo? Está passando bem?"
Constantino, que por sua vez já estava bem alto dos chops, respondceü:
"Não vê que estou ocupado, urinando pela testa?"
Naquela mesma noite, ele decidiu:
"Amanhã vamos á Igreja!"

Nenhum comentário:

Postar um comentário