sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

CAPÍTULO I - A APARIÇÃO

Naquela amanhã ao acordar, Eflúvio Constantino do Espírito Santo sentiu-se muito estranho e foi até ao banheiro averiguar. O que viu no espelho o deixou paralisado. Deixaria qualquer um, eu soponho. Pois que havia ali em sua testa uma abertura de 10 cm que lhe sorria, um sorriso mudo. Contraía-se delicadamente ao leve franzir dos cenhos. Estava viva. Constantino fechou com bastante força os olhos e ficou um tempão assim. Abriu-os novamente e a estranha abertura permanecia ali. Tocou-a levemente com o indicador e ela contraiu-se de novo. Parecia brincar. Ele então sentiu uma coisa esquisita: um prazerzinho tolo, meigo; uma sensação agradável mexendo com todo seu fluxo orgânico. Piscou muitas vezes procurando entender. Massageou demoradamente os grossos lábios e por certo quase orgasmou. Alarmado, ganhou apressado as ruas sem endereçar o olhar a ninguém. Foi procurar um médico:
"Do que se trata, seu Constantino?" Perguntou um médico de cabelos embranquecidos e um ar solenemente cansado.
"Sabe o que é, doutor... é que... bom... como explicar isso..."
"Pode falar, seu Constantino."
"É que, na minha testa..."
"O senhor a machucou, estou vendo. E me parece que estar sangrando."
"Sangrando?" Constantino pulou da cadeira. "Não está não, doutor... quer dizer... pode estar sim. É que talvez ela tenha menstruado."
O médico sorriu, considerando aquilo muito engraçado.
"Sua testa menstrua, seu Constantino?"
"O que nasceu nela sim, doutor."
"E o que nasceu nela, seu Constantino?"
"Uma vagina, doutor. Uma vagina."
Intrigado, o médico se aproximou do paciente. Retirou delicadamente a gaze que lhe vedava a testa e com um olhar grave, examinou o que havia ali. Era de fato uma vagina. Uma vagina rosadinha e de lábios ligeiramente grossos. Ele que não fumava há meses, retirou da gaveta um charuto cubano que sempre guardava para ocasiões excepcionais. Como essas que cercam o mundo e a vida das pessoas. Levantou-se e foi olhar na janela. Caía uma leve garoa naquela manhã sem graça.
"Então, doutor? o que me diz o senhor?"
"Uma anomalia interessante." Respondeu o médico de costas para o paciente. "Mas o que o senhor quer que eu faça, seu Constantino."
"Retire-a daí, doutor."
"Acontece, seu Constantino, é que não sou nenhum especialista em remoção de vaginas."
"E o que eu devo fazer então, doutor?"
"Sugiro que procure um ginecologista para ver se está tudo bem com sua vagina. Em seguida, um especialista nesse caso. É o que sugiro."
Constantino deixou o consultório muito triste. Mas no dia seguinte, já se encontrava numa clínica ginecológica aguardando sua vez. As horas trabalhavam com enxaqueca e algumas mulheres que ali se achavam, olhavam curiosas para ele. Já estava imapaciente. As mãos bem frias. Até que:
"Seu Eflúvio Constantino do Espírito Santo!" (Ele odiava aquele seu primeiro nome. Devo dizer-lhes.) Meio sem jeito, ergueu o indicador:
"É o senhor?"
"S-sim, s-sou eu." E até ga-gue-jou.
"Pode entrar!"
Esquivou-se daqueles olhares condenatórios e adentrou a sala ao lado. Desta vez, foi um jovem médico que o atendeu:
"Onde dói, seu Constantino?"
Em pé, Constantino olhava para o médico esfregando as mãos frias. Suava agora por todos os poros.
"Vamos, sente-se seu Constantino. É natural que na primeira vez seja um pouco constrangedor, mas procure ficar calmo, sim? Pelo que vejo, será apenas um exame de rotina. Dispa-se e vista aquela bata rosa."
"Mas é que..."
"Eu compreendo, seu Constantino, eu compreendo." Ele vestiu a bata rosa e acomodou-se na mesa ginecológica. Afastou bem as pernas enquanto olhava assustado para todos aqueles aparatos medievais em sua volta. O médico pôs-se a examinar-lhe as partes inferiores:
"Doutor, o problema não é aí embaixo." Corrigu ele.
"Ah, não?"
"Não, doutor. É aqui em cima, na testa."
O médico olhou-o com estranheza."
"Retire a gaze e verá." Ele obedeceu. Minutos depois...
"Espantoso!"
"Pois não é, doutor!"
"Como ela foi parar aí?"
Äinda não sei. Pediram-me que eu procurasse um ginecologista antes de ir a um perito."
O médico alcançou um espéculo. Focou a luz na direção da testa dele e tornou a repetir: "
"Mas é mesmo espantoso! Nunca vi coisa igual." Observou. "Alguma disminorréia frequente?"
"Disminorréia, doutor?"
"Alteração extragenital. Dores durante as relações."
"Asseguro-lhe que ela é virgem. Apareceu-me ontem, pela manhã."
"Mas é muito espantoso!"
O jovem médico demorou-se horas a examinar minuciosamente a bela vulva. Estava encantado. Já progredia em Constantino uma leve irritação, quando o médico, enfim, parou de examiná-lo e disse:
"Vista-se, seu Constantino! Eu já terminei."
Vestiu-se ás pressas e foi sentar-se em uma mesa, defronte ao médico:
"Então, doutor?"
O médico jogou o corpo para trás e disse:
"Bom, seu Constantino, antes de tudo, não há nada dce errado com a vagina. Apenas um leve fluxo sanguíneo, o que é natural. Nada de alarmante."
"Mas o que eu faço, doutor?"
O médico tinha agora as mãos apoiando a nuca e um olhar insinuador.
"Vou encaminhá-lo a um especialista nesse tipo de anomalia e ele verá o que pode ser feito. É um caso raro, seu Constantino. Há de convirmos."
E ele foi deixar o paciente até á porta, coisa que não fazia com frequencia.
"Seu Constantino, responda-me uma coisa."
"Pois não, doutor."
"O senhor é casado?" Perguntou o médico olhando direto nos olhos do outro. O olhar do médico era mesmo insinuador. Além do que, segurava demoradamente as mãos já não mais frias de Constantino.
"Solteiro, doutor, por que?"
"Por nada, seu Constantino. Apenas curiosidade minha. Passar bem."


continua amanhã...

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